- POR FAVOR! POR FAVOR, ALGUÉM! Meu Deus, isso é um milagre. ELA ESTÁ
ACORDADA! ELA ACORDOU!
Escuto uma voz
familiar gritar, e obrigo os meus olhos
a se focarem e então a pessoa se aproxima de mim:
- Onde eu estou? O que aconteceu?
Antes que a Manu
possa me responder eu olho ao redor e percebo que estou deitada em uma cama de
hospital, cheia de aparelhos ao meu redor. Uma enfermeira entra às pressas no
quarto, seguido de um homem, que eu acredito ser um Médico:
- Olá Roberta, eu sou o Doutor Sam, e eu vou levar à senhora
para fazer alguns exames. Lembra-se do que aconteceu?
Ele passa uma luz
pelos meus olhos, e em seguida fala pra a enfermeira os exames que eu vou ter
que fazer:
- Eu me lembro de bater o carro, da Manu chorando e falando
ao telefone, em seguida os médicos chegaram. É só disso que eu me lembro.
- A senhora sofreu um trauma muito grande devido ao
acidente, fizemos o melhor que podíamos no seu tratamento, mas inicialmente,
não obtivemos nenhuma resposta, até hoje. A senhora ficou em coma por cerca de
24 semanas.
- Eu... O quê?
- Como a senhora se sente?
- Bem... Eu... Eu estou me sentindo bem, só estou com um
pouco de dor de cabeça.
- Te vejo daqui a pouco, venho te buscar para fazer os
exames. Vou te dar um tempinho para absorver tudo isso.
Ele sai do quarto, e
a enfermeira também, então a Manu se aproxima da cama, e se senta na beirada:
- Mau Deus Robe, eu nem estou acreditando, estávamos todos
tão preocupados. A sua mãe estava pirando, isso sem falar no Alex, ele não
tirou o pé daqui desde o dia do acidente.
Eu dou outra olhada
ao redor do quarto, e reconheço imediatamente o computador do Alex, sobre uma
bancada, e também as chaves do seu carro:
- Onde o Alex está?
Eu estava muito
confusa, e ainda não tinha visto o meu marido:
- Ele foi à casa de vocês, tinha que pegar algumas coisas.
- Ele foi de táxi?
Ela segue os meus
olhos, e percebe que estou olhando para as chaves dele:
- Não, eu disse para ele pegar o meu carro.
- O que aconteceu com ele nesses cinco meses?
- Nada, a vida dele praticamente parou, ele vem aqui todos os
dias, e passa a maior parte do tempo, ele ficou completamente desolado com o
acidente e das notícias sobre o seu estado.
O médico volta e me
leva para a sala de tomografias, e depois para a de ressonância magnética, e
assim por diante, até terminarmos e eu voltar para o quarto. Quando entro pela
porta, o rosto do Alex imediatamente se ilumina. Eu não o reconheço, ele parece
bem mais magro, e suas olheiras o deixam muito mais velho do que ele realmente
é:
- Meu amor, eu...eu estou tão feliz que você acordou, você
não faz ideia. Como você está se sentindo?
Ele se aproxima e me
ajuda a levantar da cadeira de rodas e a chegar à cama:
- Com um pouco de dor de cabeça, e confusa com tudo o que
aconteceu, mas fora isso eu estou bem.
- Entendo, eu já liguei para a sua mãe e para a Alice, elas
estão vindo para cá. Eu estou tão aliviado de você estar aqui, estava apavorado
com o fato de te perder.
Eu me aproximo e dou
um beijo na sua testa, posso notar que ele está realmente aliviado. Ele parece
não saber o que falar, e eu fico aliviada porque também não sei. Fico
conversando com o Alex e com a Manu, em seguida a minha mãe e minha irmã chegaram.
Minha mãe está bem pior do que eu imaginei, ela sempre anda muito bem arrumada,
sempre com roupa e sapatos de grife, mas hoje ela está sem nada de maquiagem, o
cabelo está em um coque, e está vestida uma calça jeans, um cardigã e uma sapatilha.
Depois de algumas
horas o Dr. Sam entra no quarto, ele está com um bocado de papel nas mãos:
- Olá, vejo que o quarto está cheio, mas infelizmente eu vou ter de pedir que vocês
esperem lá fora por favor, eu gostaria de falar somente com o Senhor e senhora
Bouvier.
Depois de alguns
instantes de protesto, minha mãe, a Alice e a Manu se retiram do quarto:
- Muito bem, eu estou aqui com os resultados dos seus
exames.
Quando ele diz isso
eu gelo por dentro, se ele pediu para a minha mãe sair, as notícias não devem
ser nada boas:
- E então?
- Eu estou muito impressionado, os seus exames estão ótimos,
a senhora está com um pouco de anemia, mas nada muito grave, sua saúde está
impecável, por incrível que pareça. E apesar de tudo o que senhora passou
nenhum órgão seu foi gravemente afetado. Eu vou te receitar algumas vitaminas,
umas aspirinas para a sua dor de cabeça. E eu também gostaria que a senhora
falasse com um psicólogo.
Eu olho para o Alex
e vejo o alívio em seu rosto, eu também me sinto muito aliviada:
- E quando eu vou poder levá-la para casa?
- Provavelmente entre amanhã e segunda.
Quando ele sai do
quarto minha mãe entra as presas, eu conto para elas o que o médico disse.
Quando o horário de
visitas acaba, só é permitido que eu ficasse com um acompanhante, e o meu
marido faz questão de ficar:
- Estou tão feliz por você ter acordado, e por estar bem. Só
de pensar que vou poder te levar para a nossa casa, depois de tanto tempo.
- Alex.
- Oi.
- Como foi em Chicago? Deu tudo certo?
Ele respira fundo, e
depois abre um sorriso tímido que só ele tem:
- Vamos falar disso outra hora.
- Não, por favor, eu quero saber como foi.
- Tudo bem.
Eu vou mais para o
lado da cama, dando espaço para ele se deitar ao meu lado, ele parece estar
escolhendo as melhores palavras para me dar uma notícia terrível:
- Eu fiz todos os exames, e os médicos disseram que eu
estava 93% fértil, eles falaram que o meu ultimo tratamento deve ter dado
certo, que no meu organismo, o resultado foi um pouco mais lento.
Eu queria ficar
feliz, mas alguma coisa na forma como ele passa os braços ao meu redor, e como
sua respiração esta pesada, eu sei que não para por aí:
- Eu estava pegando o telefone para te contar, quando a Manu
me ligou, ela estava apavorada. Eu peguei o primeiro voo para cá, e quando eu
cheguei, a notícia de que você estava em coma, e que não respondia a nenhum
estímulo me deixou sem chão... E as notícias só foram piorando... O doutor Sam,
ele... Ele veio até mim, e me deu a notícia de que com o acidente, você... Você
sofreu um aborto, e perdeu o nosso filho...
A voz dele treme, e
eu vejo as lágrimas percorrerem o seu rosto:
- Robe, você estava grávida de cinco semanas.
Eu fico em silêncio,
deixando as lágrimas queimarem o meu rosto, enquanto sou invadida por uma dor
imensa. A mesma dor que senti no dia em que meu pai faleceu, uma dor bem pior
do que a do acidente. Uma dor, que já se tornou uma velha conhecida.