sábado, 29 de agosto de 2015

Capítulo final

- POR FAVOR! POR FAVOR, ALGUÉM!  Meu Deus, isso é um milagre. ELA ESTÁ ACORDADA! ELA ACORDOU!
  Escuto uma voz familiar gritar, e obrigo os meus  olhos a se focarem e então a pessoa se aproxima de mim:
- Onde eu estou? O que aconteceu?
  Antes que a Manu possa me responder eu olho ao redor e percebo que estou deitada em uma cama de hospital, cheia de aparelhos ao meu redor. Uma enfermeira entra às pressas no quarto, seguido de um homem, que eu acredito ser um Médico:
- Olá Roberta, eu sou o Doutor Sam, e eu vou levar à senhora para fazer alguns exames. Lembra-se do que aconteceu?
   Ele passa uma luz pelos meus olhos, e em seguida fala pra a enfermeira os exames que eu vou ter que fazer:
- Eu me lembro de bater o carro, da Manu chorando e falando ao telefone, em seguida os médicos chegaram. É só disso que eu me lembro.
- A senhora sofreu um trauma muito grande devido ao acidente, fizemos o melhor que podíamos no seu tratamento, mas inicialmente, não obtivemos nenhuma resposta, até hoje. A senhora ficou em coma por cerca de 24 semanas.
- Eu... O quê?
- Como a senhora se sente?
- Bem... Eu... Eu estou me sentindo bem, só estou com um pouco de dor de cabeça.
- Te vejo daqui a pouco, venho te buscar para fazer os exames. Vou te dar um tempinho para absorver tudo isso.
  Ele sai do quarto, e a enfermeira também, então a Manu se aproxima da cama, e se senta na beirada:
- Mau Deus Robe, eu nem estou acreditando, estávamos todos tão preocupados. A sua mãe estava pirando, isso sem falar no Alex, ele não tirou o pé daqui desde o dia do acidente.
   Eu dou outra olhada ao redor do quarto, e reconheço imediatamente o computador do Alex, sobre uma bancada, e também as chaves do seu carro:
- Onde o Alex está?
   Eu estava muito confusa, e ainda não tinha visto o meu marido:
- Ele foi à casa de vocês, tinha que pegar algumas coisas.
- Ele foi de táxi?
   Ela segue os meus olhos, e percebe que estou olhando para as chaves dele:
- Não, eu disse para ele pegar o meu carro.
- O que aconteceu com ele nesses cinco meses?
- Nada, a vida dele praticamente parou, ele vem aqui todos os dias, e passa a maior parte do tempo, ele ficou completamente desolado com o acidente e das notícias sobre o seu estado.
   O médico volta e me leva para a sala de tomografias, e depois para a de ressonância magnética, e assim por diante, até terminarmos e eu voltar para o quarto. Quando entro pela porta, o rosto do Alex imediatamente se ilumina. Eu não o reconheço, ele parece bem mais magro, e suas olheiras o deixam muito mais velho do que ele realmente é:
- Meu amor, eu...eu estou tão feliz que você acordou, você não faz ideia. Como você está se sentindo?
  Ele se aproxima e me ajuda a levantar da cadeira de rodas e a chegar à cama:
- Com um pouco de dor de cabeça, e confusa com tudo o que aconteceu, mas fora isso eu estou bem.
- Entendo, eu já liguei para a sua mãe e para a Alice, elas estão vindo para cá. Eu estou tão aliviado de você estar aqui, estava apavorado com o fato de te perder.
  Eu me aproximo e dou um beijo na sua testa, posso notar que ele está realmente aliviado. Ele parece não saber o que falar, e eu fico aliviada porque também não sei. Fico conversando com o Alex e com a Manu, em seguida a minha mãe e minha irmã chegaram. Minha mãe está bem pior do que eu imaginei, ela sempre anda muito bem arrumada, sempre com roupa e sapatos de grife, mas hoje ela está sem nada de maquiagem, o cabelo está em um coque, e está vestida uma calça jeans, um cardigã e uma sapatilha.
   Depois de algumas horas o Dr. Sam entra no quarto, ele está com um bocado de papel nas mãos:
- Olá, vejo que o quarto está cheio, mas  infelizmente eu vou ter de pedir que vocês esperem lá fora por favor, eu gostaria de falar somente com o Senhor e senhora Bouvier.
   Depois de alguns instantes de protesto, minha mãe, a Alice e a Manu se retiram do quarto:
- Muito bem, eu estou aqui com os resultados dos seus exames.
  Quando ele diz isso eu gelo por dentro, se ele pediu para a minha mãe sair, as notícias não devem ser nada boas:
- E então?
- Eu estou muito impressionado, os seus exames estão ótimos, a senhora está com um pouco de anemia, mas nada muito grave, sua saúde está impecável, por incrível que pareça. E apesar de tudo o que senhora passou nenhum órgão seu foi gravemente afetado. Eu vou te receitar algumas vitaminas, umas aspirinas para a sua dor de cabeça. E eu também gostaria que a senhora falasse com um psicólogo.
  Eu olho para o Alex e vejo o alívio em seu rosto, eu também me sinto muito aliviada:
- E quando eu vou poder levá-la para casa?
- Provavelmente entre amanhã e segunda.
  Quando ele sai do quarto minha mãe entra as presas, eu conto para elas o que o médico disse.
   Quando o horário de visitas acaba, só é permitido que eu ficasse com um acompanhante, e o meu marido faz questão de ficar:
- Estou tão feliz por você ter acordado, e por estar bem. Só de pensar que vou poder te levar para a nossa casa, depois de tanto tempo.
- Alex.
 - Oi.
- Como foi em Chicago? Deu tudo certo?
  Ele respira fundo, e depois abre um sorriso tímido que só ele tem:
- Vamos falar disso outra hora.
- Não, por favor, eu quero saber como foi.
- Tudo bem.
   Eu vou mais para o lado da cama, dando espaço para ele se deitar ao meu lado, ele parece estar escolhendo as melhores palavras para me dar uma notícia terrível:
- Eu fiz todos os exames, e os médicos disseram que eu estava 93% fértil, eles falaram que o meu ultimo tratamento deve ter dado certo, que no meu organismo, o resultado foi um pouco mais lento.
  Eu queria ficar feliz, mas alguma coisa na forma como ele passa os braços ao meu redor, e como sua respiração esta pesada, eu sei que não para por aí:
- Eu estava pegando o telefone para te contar, quando a Manu me ligou, ela estava apavorada. Eu peguei o primeiro voo para cá, e quando eu cheguei, a notícia de que você estava em coma, e que não respondia a nenhum estímulo me deixou sem chão... E as notícias só foram piorando... O doutor Sam, ele... Ele veio até mim, e me deu a notícia de que com o acidente, você... Você sofreu um aborto, e perdeu o nosso filho...
   A voz dele treme, e eu vejo as lágrimas percorrerem o seu rosto:
- Robe, você estava grávida de cinco semanas.

  Eu fico em silêncio, deixando as lágrimas queimarem o meu rosto, enquanto sou invadida por uma dor imensa. A mesma dor que senti no dia em que meu pai faleceu, uma dor bem pior do que a do acidente. Uma dor, que já se tornou uma velha conhecida.