sábado, 29 de agosto de 2015

Capítulo final

- POR FAVOR! POR FAVOR, ALGUÉM!  Meu Deus, isso é um milagre. ELA ESTÁ ACORDADA! ELA ACORDOU!
  Escuto uma voz familiar gritar, e obrigo os meus  olhos a se focarem e então a pessoa se aproxima de mim:
- Onde eu estou? O que aconteceu?
  Antes que a Manu possa me responder eu olho ao redor e percebo que estou deitada em uma cama de hospital, cheia de aparelhos ao meu redor. Uma enfermeira entra às pressas no quarto, seguido de um homem, que eu acredito ser um Médico:
- Olá Roberta, eu sou o Doutor Sam, e eu vou levar à senhora para fazer alguns exames. Lembra-se do que aconteceu?
   Ele passa uma luz pelos meus olhos, e em seguida fala pra a enfermeira os exames que eu vou ter que fazer:
- Eu me lembro de bater o carro, da Manu chorando e falando ao telefone, em seguida os médicos chegaram. É só disso que eu me lembro.
- A senhora sofreu um trauma muito grande devido ao acidente, fizemos o melhor que podíamos no seu tratamento, mas inicialmente, não obtivemos nenhuma resposta, até hoje. A senhora ficou em coma por cerca de 24 semanas.
- Eu... O quê?
- Como a senhora se sente?
- Bem... Eu... Eu estou me sentindo bem, só estou com um pouco de dor de cabeça.
- Te vejo daqui a pouco, venho te buscar para fazer os exames. Vou te dar um tempinho para absorver tudo isso.
  Ele sai do quarto, e a enfermeira também, então a Manu se aproxima da cama, e se senta na beirada:
- Mau Deus Robe, eu nem estou acreditando, estávamos todos tão preocupados. A sua mãe estava pirando, isso sem falar no Alex, ele não tirou o pé daqui desde o dia do acidente.
   Eu dou outra olhada ao redor do quarto, e reconheço imediatamente o computador do Alex, sobre uma bancada, e também as chaves do seu carro:
- Onde o Alex está?
   Eu estava muito confusa, e ainda não tinha visto o meu marido:
- Ele foi à casa de vocês, tinha que pegar algumas coisas.
- Ele foi de táxi?
   Ela segue os meus olhos, e percebe que estou olhando para as chaves dele:
- Não, eu disse para ele pegar o meu carro.
- O que aconteceu com ele nesses cinco meses?
- Nada, a vida dele praticamente parou, ele vem aqui todos os dias, e passa a maior parte do tempo, ele ficou completamente desolado com o acidente e das notícias sobre o seu estado.
   O médico volta e me leva para a sala de tomografias, e depois para a de ressonância magnética, e assim por diante, até terminarmos e eu voltar para o quarto. Quando entro pela porta, o rosto do Alex imediatamente se ilumina. Eu não o reconheço, ele parece bem mais magro, e suas olheiras o deixam muito mais velho do que ele realmente é:
- Meu amor, eu...eu estou tão feliz que você acordou, você não faz ideia. Como você está se sentindo?
  Ele se aproxima e me ajuda a levantar da cadeira de rodas e a chegar à cama:
- Com um pouco de dor de cabeça, e confusa com tudo o que aconteceu, mas fora isso eu estou bem.
- Entendo, eu já liguei para a sua mãe e para a Alice, elas estão vindo para cá. Eu estou tão aliviado de você estar aqui, estava apavorado com o fato de te perder.
  Eu me aproximo e dou um beijo na sua testa, posso notar que ele está realmente aliviado. Ele parece não saber o que falar, e eu fico aliviada porque também não sei. Fico conversando com o Alex e com a Manu, em seguida a minha mãe e minha irmã chegaram. Minha mãe está bem pior do que eu imaginei, ela sempre anda muito bem arrumada, sempre com roupa e sapatos de grife, mas hoje ela está sem nada de maquiagem, o cabelo está em um coque, e está vestida uma calça jeans, um cardigã e uma sapatilha.
   Depois de algumas horas o Dr. Sam entra no quarto, ele está com um bocado de papel nas mãos:
- Olá, vejo que o quarto está cheio, mas  infelizmente eu vou ter de pedir que vocês esperem lá fora por favor, eu gostaria de falar somente com o Senhor e senhora Bouvier.
   Depois de alguns instantes de protesto, minha mãe, a Alice e a Manu se retiram do quarto:
- Muito bem, eu estou aqui com os resultados dos seus exames.
  Quando ele diz isso eu gelo por dentro, se ele pediu para a minha mãe sair, as notícias não devem ser nada boas:
- E então?
- Eu estou muito impressionado, os seus exames estão ótimos, a senhora está com um pouco de anemia, mas nada muito grave, sua saúde está impecável, por incrível que pareça. E apesar de tudo o que senhora passou nenhum órgão seu foi gravemente afetado. Eu vou te receitar algumas vitaminas, umas aspirinas para a sua dor de cabeça. E eu também gostaria que a senhora falasse com um psicólogo.
  Eu olho para o Alex e vejo o alívio em seu rosto, eu também me sinto muito aliviada:
- E quando eu vou poder levá-la para casa?
- Provavelmente entre amanhã e segunda.
  Quando ele sai do quarto minha mãe entra as presas, eu conto para elas o que o médico disse.
   Quando o horário de visitas acaba, só é permitido que eu ficasse com um acompanhante, e o meu marido faz questão de ficar:
- Estou tão feliz por você ter acordado, e por estar bem. Só de pensar que vou poder te levar para a nossa casa, depois de tanto tempo.
- Alex.
 - Oi.
- Como foi em Chicago? Deu tudo certo?
  Ele respira fundo, e depois abre um sorriso tímido que só ele tem:
- Vamos falar disso outra hora.
- Não, por favor, eu quero saber como foi.
- Tudo bem.
   Eu vou mais para o lado da cama, dando espaço para ele se deitar ao meu lado, ele parece estar escolhendo as melhores palavras para me dar uma notícia terrível:
- Eu fiz todos os exames, e os médicos disseram que eu estava 93% fértil, eles falaram que o meu ultimo tratamento deve ter dado certo, que no meu organismo, o resultado foi um pouco mais lento.
  Eu queria ficar feliz, mas alguma coisa na forma como ele passa os braços ao meu redor, e como sua respiração esta pesada, eu sei que não para por aí:
- Eu estava pegando o telefone para te contar, quando a Manu me ligou, ela estava apavorada. Eu peguei o primeiro voo para cá, e quando eu cheguei, a notícia de que você estava em coma, e que não respondia a nenhum estímulo me deixou sem chão... E as notícias só foram piorando... O doutor Sam, ele... Ele veio até mim, e me deu a notícia de que com o acidente, você... Você sofreu um aborto, e perdeu o nosso filho...
   A voz dele treme, e eu vejo as lágrimas percorrerem o seu rosto:
- Robe, você estava grávida de cinco semanas.

  Eu fico em silêncio, deixando as lágrimas queimarem o meu rosto, enquanto sou invadida por uma dor imensa. A mesma dor que senti no dia em que meu pai faleceu, uma dor bem pior do que a do acidente. Uma dor, que já se tornou uma velha conhecida.

sábado, 22 de agosto de 2015

Capítulo 35

   Eu sinto um frio na barriga, e ele continua olhando para mim com o sorriso no rosto:
- O que você vai fazer lá?
   Ele ergue uma sobrancelha:
- Tenho uma consulta médica.
  Eu arregalo os olhos e meu coração quase sai pela boca:
- Minha esposa quer ter um filho, então eu vou dar um filho à ela.
   Eu fico boquiaberta enquanto ele começa a retirar os pratos da mesa:
- Seria bom uma ajudinha aqui.
   Eu levanto da mesa e vou até ele, passo os braços por seu pescoço e levo meus lábios aos dele:
- Se eu soubesse que ia ser assim tinha contado mais cedo.
- Você é maravilhoso. Eu te amo.
- Eu também te amo.
 - Isso significa muito para mim, de verdade.
 Eu vou para o quarto dormir, enquanto o Alex trabalha em uns projetos no computador. Eu estou tão feliz que não paro de pensar no sacrifício que ele está fazendo por mim, e do quanto eu amo aquele homem.
  Quando eu vou para a galeria ele ainda está dormindo, e eu não quero acordá-lo, deve ter ido pra cama bem tarde. Eu chego à galeria e vou direto contar tudo pra Manu, ela fica mais feliz do que eu tinha imaginado:
- Que noticia maravilhosa!
- Ele me pegou totalmente de surpresa, eu achei que ele fosse se fechar e não tocar mais no assunto.
- Já que ele não vai poder ir pra exposição, você pode ir comigo.
- Não, eu vou dirigindo.
  Ela não concorda, mas não discute. Ficamos até mais tarde na galeria, um cliente veio ver as novas obras, e demorou muito para se decidir se iria reservar alguma.
  Quando eu chego a casa, o Alex ainda não está, e alguns minutos depois ele me manda uma mensagem dizendo que vai ter que ficar até mais tarde no escritório.
  Eu acabo pedindo comida italiana, e vou para a cama. Quando eu acordo o Alex está com uma xícara de café e um jornal, sentado a mesa de jantar:
- Bom dia.
- Bom dia, que horas você chegou?
- Não sei, mas já era bem tarde.
- Eu adoraria passar o dia com o meu marido, mas infelizmente eu tenho que sair com a Manu para comprar um vestido para amanhã.
  Eu passo no apartamento dela, que ainda não acordou:
- Levanta, levanta. Temos que comprar vestidos de gala para amanhã.
  Ela protesta, mas levanta:
- Pode ir seguindo para a galeria, eu te encontro lá.
  Depois de uma hora ela chega ao nosso escritório:
- Caramba, que demora.
- Desculpa, desculpa.
  Eu acabo comprando um vestido preto, com um corte na lateral que vai do joelho até o chão, ele é tomara que caia, e tem um bordado na parte de cima. A Manu acabou pegando uma cinza com a parte de cima toda prata, era de uma alça só, e ela ficou incrivelmente linda com aquele vestido, saímos da loja de vestidos e fomos à busca de sapatos. Eu demorei horas para escolher, e acabei pegando uma sandália de salto, toda dourada. A Manu, sempre bem decidida, foi logo pegando um sapato todo preto e lustroso. Resolvemos parar para tomar um café:
- Você não vai conseguir dirigir com essa sandália que você comprou.
- Eu vou com uma sapatilha, vou colocar a sandália só quando já estiver na lá.
  Depois de agendar um horário no salão, voltamos para a galeria. Essa semana foi bem corrida, e cheia de surpresas. E eu estava até estranhando, estava tudo perfeito de mais, dava até medo.
  Quando eu cheguei a casa, o Alex me fez experimentar o vestido e desfilar para ele:
- Então você gostou?
- Esta brincando? Eu adorei.
- Que horas você vai para Chicago?
- Daqui umas 4 horas, minha consulta é as 15h00min.
- Quantos dias você vai ficar lá?
- Não sei bem, mas acho que não passa de três.
   Quando eu acordo o Alex não está, e eu tenho a impressão de que o dia vai passar super-rápido. Eu e a Manu ficas na galeria só até às 15h30min, e vamos direto para o salão. Eu estava fazendo as unhas quando o Alex me ligou:
- Oi, como foi a viajem?
- Foi boa, eu já fiz um bocado de exames, agora estamos esperando os resultados.
- Que bom.
- Acho que vou voltar antes do que eu imaginava, mas mesmo assim não vai dar para te acompanhar hoje.
  Ele diz que está sendo chamado por um médico, e desliga o celular:
- Você tem certeza de que não quer ir comigo?
- Tenho sim, não se preocupa não Manu.
   Quando eu chego a casa, termino de me arrumar. Chego à garagem e o carro da Manu ainda está lá, então eu mando uma mensagem dizendo que já estou indo, ela me responde imediatamente, dizendo que está terminando de se arrumar e ainda vai esperar o motorista que ela contratou.

    Quando eu deixo a garagem do prédio, me dou conta de que esqueci a sapatilha, e vou ter que dirigir descalça. Está tudo correndo bem, e eu estava quase terminando de passar no trecho da estrada que estava em reforma, quando eu pego o celular para ver as horas, e em questão de segundos o meu pé fica suado, desliza e o carro invade a pista em reforma, e tudo parece estar em câmera lenta. Eu me lembro do carro capotar e de sentir estilhaços de vidro, eu sentia uma dor incontrolável na nuca. Estava desnorteada quando a Manu apareceu, toda desesperada e falindo ao telefone em completo pânico. Não demora muito e eu vejo as luzes da ambulância, um paramédico se aproxima de mim e diz para ficar acordada e falar com ele, mas eu não consigo minha voz não sai, e a dor parece invadir o meu corpo. Tudo ao meu redor parece estar parando e minha visão começa a borrar, mas antes eu vejo o meu pai, bem do lado do rapaz que tenta me manter acordada. O meu pai olha para mim e abre um largo sorriso, que só ele tem, então, eu fecho os olhos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Capitulo 34


Eu não fiquei surpresa com o pedido, e sim com o brilho em seus olhos quando, ele falava da minha mãe:
- O que você acha?
- Eu acredito quando você diz que ama a minha mãe, e sei que é recíproco, então, eu acho que vocês deveriam ir a frete.
   As minhas palavras pareceram pegar ele de surpresa, e ele solta um suspiro de alívio:
- Que bom, achei que você fosse ser contra.
- Não, estou a favor.
   Ele me deixa na galeria, e nem entro direito e a Manu já me arrasta para fora:
- Posso saber para onde você está me levando.
- Estamos indo comprar nossos carros.
- Nossos?
- Sim, eu sou uma excelente motorista, você eu não sei, mas eu me garanto.
- Não sabia disso.
- Pois é, eu sou uma caixinha de surpresas.
  Quando chegamos, a Manu se apaixona instantaneamente um carro da Range Houver, já eu fui olhar um Audi preto que me lembrava de o do meu pai, ele era apaixonado pelo carro, sempre fazia a maior propaganda:
- E aí, de qual você gostou?
- Desse preto aqui.
- Bonito, também gostei, vou levar aquele verde escuro ali, você vai levar esse?
- Acho que não.
- Por quê?
- Faz muito tempo que eu não dirijo, acho melhor alugar um carro até pegar o jeito outra vez.
- Você quem sabe.
  O vendedor que estava atendendo a Manu chega, ele pergunta se eu vou levar o Audi, eu digo que não e ele se vira para a minha amiga:
- Então senhorita Sobano, vamos tratar de negócios?
  Ela faz que sim com a cabeça e entra no escritório. Depois de algum tempo ela volta sacudindo a chave do carro e sorrindo:
- Você vai levar esse aqui?
  Eu aponto para o carro exposto, e ela faz que não com a cabeça:
- Não, ele vai me levar na garagem dos fundos para pegar o meu esse é só de exposição. Vamos ter que passar em um posto no caminho.
   A Manu me surpreende, ela é realmente uma boa motorista:
- Como vão as coisas entre você e o Alex, em relação a gravidez?
   Ela pergunta com um pouco de preocupação em escolher as suas palavras:
- Não falamos mais no assunto. Ele parece ter deletado esse assunto da sua mente, inclusive a briga.
- E como você se sente em relação a isso?
   Como eu me sinto? Ainda não parei para pensar nisso:
- Não sei, acho que vou seguir o seu concelho, e dar um tempo pra ele.
- É a melhor coisa que você faz. Isso é uma coisa bem delicada, tem que ter muito planejamento.
   Ela parece tão séria, mas no fundo eu sei que é verdade.
   O trânsito de Nova York é caótico, como sempre, e levamos cerca de uma hora pra fazer um percurso que levaríamos no máximo 30 minutos.
  O resto do dia passa voando, e eu ligo para uma agência de aluguel de carros, escolhi um modelo peso site e marquei de ir buscá-lo amanhã. Quando eu chego a casa, o Alex está na sala, tirando a gravata:
- Oi.
- Oi.
   Eu vou até ele é dou um beijo em seu rosto:
- Como foi seu dia?
- Bom, o Gabriel veio me perguntar o que eu achava dele se casar com a minha mãe.
- E o que você disse?
- Que fico feliz por eles. E eu também fui a uma concessionária hoje.
  Ele arregala os olhos, e não consegue disfarçar a surpresa e a preocupação:
- Posso relaxar, eu não comprei o carro, eu acabei pensando no que você falou, e eu concordo que faz muito tempo que eu não dirijo.
- Que bom que você mudou de ideia.
- Eu não mudei, vou alugar um carro e passar essa semana com ele. Quero pegar o jeito outra vez antes de comprar um.
   Eu estava dando uma olhada nos meus e-mails, quando vi que tinha um convite para uma exposição incrível em uma cidade próxima a Nova York, fiquei muito empolgada e logo confirmei a presença.
  Quando eu chego à galeria a Manu me conta que também recebeu o convite:
- Eu vou com o meu carro, mas vou contratar um motorista, o evento vai ser a noite e eu acho um pouco perigoso, você pode ir comigo.
- Acho que não, essa semana eu quero dirigir o máximo possível, e eu adoro pegar a estrada.
- Ai Robe, eu não sei não viu, tem uma parte da estrada que é bem perigosa, e sem falar que eles estão reformando um lado da pista.
- Não se preocupa apesar do que vocês falam, eu sou uma boa motorista.
- Você quem sabem. O Alex vai junto?
- Não sei, ainda não falei com ele.
- Quando você vai pegar o carro?
- Vou à agência de aluguel na hora do almoço.
   A hora passa muito rápido, e quando eu vejo já está na hora de ir buscar o carro. Eu não demoro muito na agência, e depois de assinar os papéis e dar o cheque, o rapaz me entrega a chave do carro, e eu volto para a galeria dirigindo.
   O restante do dia demora muito para passar, eu fico preenchendo a papelada do seguro de umas obras novas que estamos recebendo, enquanto a Manu e o Jan conferem os papéis de autenticação de cada obra.  Quando finalmente terminamos, eu vou  para casa, mas antes passo no mercado para comprar algumas coisas para fazer o jantar. O Alex chega quando eu estou terminando de colocar a mesa:
- Boa noite, nossa que capricho todo é esse?
  Ele diz enquanto tira o paletó e as chaves do bolço:
- Boa noite.
  Eu caminho até ele é dou um beijo nos seus lábios:
- Acho que fiquei inspirada.
- Que bom, porque eu estou morrendo de fome.
   Enquanto jantamos, eu conto para ele das obras novas que chegaram, e também falo sobre o carro, ele diz que não é uma boa ideia, mas não insiste no assunto:
- Eu queria falar com você sobre um convite para uma exposição a alguns quilômetros aqui de Nova York, queria que você fosse comigo.
- Que dia vai ser?
- Na sexta, começa às 19h30min.
- Essa sexta?
- Sim.
- Ahh, que pena, eu não vou poder ir, eu ia te contar, aliás, eu vou ter que fazer uma viajem.
  Ele diz com um sorrisinho no rosto:
- Para onde você vai?
- Chicago.

  Quando ele diz isso, meu coração gela.

Capitulo 33

              Ele ficou parado, e por mais que tentasse esconder eu sabia que a minha declaração foi um choque:
- Você quer adotar uma criança?
- Não, eu quero ter um filho, quero engravidar.
- Roberta, você sabe que eu não posso te proporcionar isso.
- Eu sei, mas...
- Eu sinto muito, mas não posso.
   Ele sai andando em direção ao quarto, e eu vou atrás:
- Alex, eu li na internet que tem um tratamento experimental em Chicago que está dando super certo, poderíamos tentar...
- Por favor, não vamos insistir no assunto.
- Eu acho que vale a pena marcar uma consulta para...
- Roberta! Por favor, e não vou para Chicago, não vou fazer parte de um tratamento espernearão outra vez, porque nós dois já sabemos o resultado, e eu não estou nem um pouco a fim de passar por um estresse desse outra vez!
- Eu acho que você está sendo um baita de um egoísta.
- Eu não estou sendo egoísta, você sabe muito bem que esse assunto é difícil para mim, da mesma forma que é para você.
- Você está sim sendo egoísta! Pensado apenas em você e nos seus sentimentos!
- Se você faz tanta questão de me chamar de egoísta, você deveria no mínimo olhar para a sua atitude, você quer que eu passe por tudo outra vez, só para você se sentir bem! E nós dois sabemos que nem eu e nem você vamos estar realmente bem no fim dessa história!
- Alex, você é meu marido e quando se recusa a fazer o tratamento está se recusando a me dar o que eu mais quero a me dar a felicidade!
- Você está virando o jogo para o seu lado.
- EU SÓ ESTOU DIZENDO PARA O MEU MARIDO QUE EU QUERO UM FILHO! PORRA! EU TENHO 30ANOS E ESTOU NO MELHOR MOMENTO DA MINHA VIDA!
- Vamos adotar um!
- EU NÃO QUERO! EU QUERO VER A MINHA BARRIGA CRECER E SENTIR OS CHUTES DO BEBÊ, QUERO TER DESEJOS MALUCOS E PEGAR O MEU FILHO NO COLO DEPOIS DO PARTO!
- Eu sinto muito, mas isso não vai acontecer.
- POR QUE VOCÊ NÃO QUER!
- PORQUE EU SOU ESTÉREO!
  Ele anda de um lado para o outro do quarto, com as mãos no cabelo e sua postura é tensa, quando ele para de andar, repita fundo:
- Eu não posso te dar um filho porque eu sou estéreo, você sempre soube disso, é até testemunhou a forma como eu fiquei quando os outros tratamentos não deram certo, eu não quero passar por isso outra vez, você acha que eu também não quero um filho? Ter um bebê com a mulher que eu amo? Eu quero, e como quero só que não posso, e isso me atormenta a vida inteira, e vai me atormentar ainda mais, e sua falta de compreensão só piora as coisas.
  Eu também repito fundo, tentando me acalmar:
- Se o tratamento der certo, pense em toda a felicidade que vamos ter.
- E se não der certo?
- Não pense assim...
- Eu penso, porque eu já fui aos melhores médicos  da área e fiz dezenas de tratamentos e não deu certo, e isso acabou sendo um fator a mais para a minha viajem ao Canadá.
- Alex...
- Eu não vou passar mais por isso, entenda.
   Ele se deita e vira de costas para mim. Eu demoro em pegar no sono, e quando acordo, ele já foi para o trabalho. Eu chego à galeria antes de todos, e algum tempo depois a Manu chega, e depois o Jan:
- Bom dia.
- Bom dia.
- Como foi o jantar com a Marina?
- Bom.
- E como está a barriga dela?
- Começando a aparecer.
- Por que você está assim?
   Eu respiro fundo e conto tudo pra ela:
- Eu ainda não entendi o motivo de ele não querer um filho.
- Ele não pode ter filho, ele é estéreo, já fez dezenas de tratamentos mas nenhum deu certo.
- Então isso muda as coisas, não é que ele não queira, ele só não pode, e isso se torna uma coisa dolorosa para ele.
- Eu acho muito egoísmo da parte dele se recusar a fazer o tratamento.
- Mas não é, imagina só ele se encher de esperança, e no final receber um banho de água fria, pensa bem, deve ser doloroso pra ele também.
   Eu fico quieta e vou olhar meus e-mail,  coisa que não faço a muito tempo. Minha caixa de entrada está lotada, e o primeiro que eu abro é da Frida, ela fala que infelizmente não vai poder assinar o contrato, eu já sabia disso, mas mesmo assim ela da uma satisfação. O próximo que eu abro é do Gabriel, que diz que está vindo para Nova York e que gostaria de jantar comigo qualquer noite, e que quando chagar aqui me manda uma mensagem, eu abro o próximo, que é do Gustavo, meu representante na empresa, ele me manda um relatório do último semestre e as notícias são animadoras, as coisas estão indo muitíssimo bem.
 O dia demorou muito para passar, e quando finalmente chego a casa, o Alex  não está lá e eu vou até o lugar onde ele deixa as chaves do carro, e elas também não estão, então é sinal de que ele ainda não chegou. Estava exausta, o que me fez dormir rápido. Quando eu acordei, achei que não veria meu marido, e me surpreendi ao ver que ele estava dormindo ao meu lado. Eu vou para o banheiro tomar um banho e me arrumar para sair,  estou na cozinha tomando meu café às pressas, por já estar atrasada, quando vejo o Alex descendo as escadas:
- Bom dia.
- Bom dia.
  Ele se aproxima e da um beijo na minha testa, não parece nem um pouco chateado, o que também me surpreendeu:
- Você chegou que horas ontem?
- Não sei, mas já estava tarde, tive um problema com um cliente, àquele de Vegas.
- Acho que vou comprar um carro.
   Quando eu digo isso, ele imediatamente começa a rir, e quase engasga com o café:
- Você está brincando?
- Não, estou falando sério.
- Você é uma péssima motorista, é um perigo.
- Não sou nada.
- Seu eu me lembro de bem, você já bateu o carro umas 7 vezes antes do seu pai te convencer a parar de dirigir.
- Pode falar o que você quiser, hoje mesmo vou a uma concessionária.
   Antes de sair para a galeria, dou um beijo no meu marido, e mesmo depois de tudo, fico feliz por ele não estar de fato chateado.  Ainda no elevador, meu telefone toca, e quando eu olho pra tela vejo o nome do Gabriel. Ele me diz que já chegou, e me convida para jantar, mas eu sugiro um almoço e ele acaba aceitando. Quando eu passo pela porta da galeria me surpreendo ao ver o Jan e o Jeff, cara a cara:
- Bom dia Roberta.
- Jeff... O que você... A Manuela sabe que você está aqui?
- Não, estou esperando ela chegar.
- Eu já disse para ele sair, a Manuela não vai falar com ele. Vocês não tem nada para conversar.
- Nossa Robe, eu não sabia que tínhamos um cão de guarda aqui na galeria.
   Quando nós viramos, a Manu está parada olhando para o Jeff:
- Oi Manu.
   Ela fica olhando para ele, mas não diz absolutamente nada:
- Eu vim aqui te chamar pra conversar, acho que tenho muito para te contar.
   Ela continua sem expressar nenhuma reação, e eu daria tudo para saber o que ela estava pensando naquele momento:
- Podemos conversar na cafeteria aqui da frente?
- Ela não vai falar com você nem aqui e em nenhum outro lugar!
- Jan Pierre, por favor, você não tem o poder de escolher com quem eu vou ou não falar, minha vida não é da sua conta, então, por favor, não se intrometa.
   Eu percebi pelo tom de voz que aquela ali não era a Manu, e sim a Liss, ela se vira para mim com o rosto sério:
- Não vou demorar.
- Tudo bem.
   Ela sai pela porta com o Jeff, e desde o momento em que chegou, até o momento em que saiu, não deu uma palavra se quer para ele. Ela realmente não demora, mas quando entra no escritório, a dor está estampada nos seus olhos. Ela não me diz nada a respeito da conversa que teve com o Jeff, e eu também não pergunto:
- Vou sair para comprar um carro hoje, estou cansada de ficar pegando táxi.
- Mas você não é uma péssima motorista?
- Não! Porque tudo mundo fala isso? Não sou  uma das melhores, mas também não ofereço risco para ninguém.
- Posso imaginar, vamos almoçar junto?
- Eu vou almoçar com o Gabriel.
- Ahh, o seu ex-namorado traidor/ padrasto. O Alex sabe disso?
- Não, mas acho que ele não se importa o Gabriel também é funcionário da empresa, e o Alex não é do tipo ciumento nem nada, ele confia em mim.
   Eu passo uma mensagem para o Alex, só para confirmar minha certeza de que ele confia em mim, e eu estava certa, ele diz que tudo bem eu almoçar com o Gabriel. A manhã passa bem rápido, e está tudo uma correria porque estamos recebendo minha coleção particular. Não para vender nada, mas vou deixar as obras expostas.                Não demora muito e o Gabriel chega para me buscar. Acabamos comendo eu um restaurante italiano:
- O que você veio fazer aqui em Nova York?
- Vim visitar um cliente, ele está no Texas, só chega amanhã.
- E como está a minha mãe e a Alice?
- Estão bem, eu queria te fazer uma pergunta.
- Tudo bem.
- Eu amo sua mãe, eu sei que você pode não acreditar nisso, mas eu amo, e quero passar o resto da minha vida com ela. Bem... Eu estou querendo dizer que... Robe, eu vou pedir a sua mãe em casamento.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Capitulo 32

   Ela me surpreendeu quando simplesmente virou as costas e saiu andando em direção à porta da frente. Eu fui atrás dela, mas antes parei pra pegar os casacos:
- Frida, calma, veste o seu casaco. Está congelando aqui fora.
- Você não precisa vir aqui se desculpar por eles, você não tem culpa.
- Na verdade, de certa forma eu tenho, eu sabia que eles estavam "juntos", mas eu não...
- Eu sei você não poderia trair a sua amiga, porque afinal eu sou apenas uma conhecida.  Eu não posso cobrar nada de você.
- Mas eu nunca os apoiei.
- Olha Roberta, você não me deve satisfação, e não precisa se preocupar, eu não vou voltar lá para fazer nada, eu quero resolver isso em casa, entre eu e meu noivo.
  Ela virou as costas e saiu andando sem olhar para traz. Quando eu voltei para a galeria, topei o Jan saindo, e a Manu atrás dele, mas eu impedi que ela passasse pela porta:
- Isso é uma coisa para eles fazerem sozinhos, você lá só vai atrapalhar e piorar as coisas.
- Mas eu tenho que...
- Por favor, os deixa resolverem isso entre eles, vai ser melhor assim.
  Ela voltou para o salão, mas a cada minuto olhava para a porta, esperando o ajam aparecer, coisa que não aconteceu:
- Manu, vamos? Todos já foram embora.
- Eu vou esperar o Jan mais algum tempo, mas vocês podem ir, vou ficar.
- Manu, já está tarde, amanhã você liga pra ele.
- Não se preocupa não Alex, pode ir boa noite, eu vou ficar bem.
  Eu dei um abraço nela e fui para casa:
- Nossa, tem muita gente interessada no acervo de vocês.
- Sim, eu também fiquei surpresa.
- Eu falei com a Marina mais cedo, ela quer que a gente vá jantar com ela e com o Bernardo amanhã.
- Tudo bem.
   Eu dei um beijo nele e fui para o quarto, tirar o vestido e me aprontar para dormir. Quando eu cheguei à galeria o Jan estava em sua mesa:
- Bom dia.
- Bom dia.
- A Manu já chegou?
- Já sim, ela está lá no escritório.
  Eu fui até lá, e ela estava na sua mesa, falando ao telefone:
-...Tudo bem, claro, o senhor prefere retirar a obra? Tudo bem então, até as 14h00minh. É um grande prazer ter o senhor como cliente, obrigada e tenha um bom dia.
  Ela desligou o telefone e pegou uma pasta que estava em uma das gavetas da sua mesa:
- Já vendemos 3 quadros que estavam expostos ontem.
- Como você está?
- Estou ótima, vendemos os 3 quadros mais caros da exposição.
- Não, eu estou perguntando se você está bem, e eu tenho certeza de que você entendeu a minha pergunta.
- Sim, eu entendi, só que... Ele... Ele ainda está com a Frida, eles não terminaram.
- E você estava esperando que eles terminassem?
- Sim, antes de ela chegar ao escritório ontem, eu tinha falado para o Jan que não queria mais ficar com ele se ele ainda estivesse com ela, eu não queria mais ser a amante, então ele me prometeu que terminaria tudo com ela.
- E o que ele te disse?
- Que não vai terminar com ela agora, que não é uma coisa que ele possa fazer, assim de uma hora pra outra, ele pediu para eu ter paciência e esperar, mas eu disse que não quero esperar.
- Isso significa que...
- Ele fez sua escolha e eu não vou ficar esperando ele terminar tudo com ela.
  E com essa deixa ela saiu da sala e foi deixar os papéis das retiradas dos quadros vendidos na mesa do Jan. O dia na galeria passou bem rápido, e quando eu me dei conta já estava na hora do jantar com a minha cunhada. A comida estava maravilhosa, como sempre. Ela já estava de 7 semanas, e a sua barriga já estava começando a aparecer.
  Eu e o Alex não demoramos muito lá, ele estava exausto, e eu também. Chegando a casa, ele me chama para conversar:
- Esta legal Roberta, agora me diz o que está acontecendo, você não falou nada o caminho todo, está estranha.
- Eu...é que...
  Eu sabia que o que eu estava prestes a falar iria causar um impacto muito fundo na minha relação com ele:
- Eu quero um filho, quero engravidar.