- Você quer adotar uma criança?
- Não, eu quero ter um filho, quero engravidar.
- Roberta, você sabe que eu não posso te proporcionar isso.
- Eu sei, mas...
- Eu sinto muito, mas não posso.
Ele sai andando em
direção ao quarto, e eu vou atrás:
- Alex, eu li na internet que tem um tratamento experimental
em Chicago que está dando super certo, poderíamos tentar...
- Por favor, não vamos insistir no assunto.
- Eu acho que vale a pena marcar uma consulta para...
- Roberta! Por favor, e não vou para Chicago, não vou fazer
parte de um tratamento espernearão outra vez, porque nós dois já sabemos o
resultado, e eu não estou nem um pouco a fim de passar por um estresse desse
outra vez!
- Eu acho que você está sendo um baita de um egoísta.
- Eu não estou sendo egoísta, você sabe muito bem que esse
assunto é difícil para mim, da mesma forma que é para você.
- Você está sim sendo egoísta! Pensado apenas em você e nos
seus sentimentos!
- Se você faz tanta questão de me chamar de egoísta, você
deveria no mínimo olhar para a sua atitude, você quer que eu passe por tudo
outra vez, só para você se sentir bem! E nós dois sabemos que nem eu e nem você
vamos estar realmente bem no fim dessa história!
- Alex, você é meu marido e quando se recusa a fazer o
tratamento está se recusando a me dar o que eu mais quero a me dar a
felicidade!
- Você está virando o jogo para o seu lado.
- EU SÓ ESTOU DIZENDO PARA O MEU MARIDO QUE EU QUERO UM
FILHO! PORRA! EU TENHO 30ANOS E ESTOU NO MELHOR MOMENTO DA MINHA VIDA!
- Vamos adotar um!
- EU NÃO QUERO! EU QUERO VER A MINHA BARRIGA CRECER E SENTIR
OS CHUTES DO BEBÊ, QUERO TER DESEJOS MALUCOS E PEGAR O MEU FILHO NO COLO DEPOIS
DO PARTO!
- Eu sinto muito, mas isso não vai acontecer.
- POR QUE VOCÊ NÃO QUER!
- PORQUE EU SOU ESTÉREO!
Ele anda de um lado
para o outro do quarto, com as mãos no cabelo e sua postura é tensa, quando ele
para de andar, repita fundo:
- Eu não posso te dar um filho porque eu sou estéreo, você
sempre soube disso, é até testemunhou a forma como eu fiquei quando os outros
tratamentos não deram certo, eu não quero passar por isso outra vez, você acha
que eu também não quero um filho? Ter um bebê com a mulher que eu amo? Eu
quero, e como quero só que não posso, e isso me atormenta a vida inteira, e vai
me atormentar ainda mais, e sua falta de compreensão só piora as coisas.
Eu também repito
fundo, tentando me acalmar:
- Se o tratamento der certo, pense em toda a felicidade que
vamos ter.
- E se não der certo?
- Não pense assim...
- Eu penso, porque eu já fui aos melhores médicos da área e fiz dezenas de tratamentos e não
deu certo, e isso acabou sendo um fator a mais para a minha viajem ao Canadá.
- Alex...
- Eu não vou passar mais por isso, entenda.
Ele se deita e vira
de costas para mim. Eu demoro em pegar no sono, e quando acordo, ele já foi
para o trabalho. Eu chego à galeria antes de todos, e algum tempo depois a Manu
chega, e depois o Jan:
- Bom dia.
- Bom dia.
- Como foi o jantar com a Marina?
- Bom.
- E como está a barriga dela?
- Começando a aparecer.
- Por que você está assim?
Eu respiro fundo e
conto tudo pra ela:
- Eu ainda não entendi o motivo de ele não querer um filho.
- Ele não pode ter filho, ele é estéreo, já fez dezenas de
tratamentos mas nenhum deu certo.
- Então isso muda as coisas, não é que ele não queira, ele
só não pode, e isso se torna uma coisa dolorosa para ele.
- Eu acho muito egoísmo da parte dele se recusar a fazer o
tratamento.
- Mas não é, imagina só ele se encher de esperança, e no
final receber um banho de água fria, pensa bem, deve ser doloroso pra ele
também.
Eu fico quieta e
vou olhar meus e-mail, coisa que não
faço a muito tempo. Minha caixa de entrada está lotada, e o primeiro que eu
abro é da Frida, ela fala que infelizmente não vai poder assinar o contrato, eu
já sabia disso, mas mesmo assim ela da uma satisfação. O próximo que eu abro é
do Gabriel, que diz que está vindo para Nova York e que gostaria de jantar
comigo qualquer noite, e que quando chagar aqui me manda uma mensagem, eu abro
o próximo, que é do Gustavo, meu representante na empresa, ele me manda um
relatório do último semestre e as notícias são animadoras, as coisas estão indo
muitíssimo bem.
O dia demorou muito
para passar, e quando finalmente chego a casa, o Alex não está lá e eu vou até o lugar onde ele
deixa as chaves do carro, e elas também não estão, então é sinal de que ele
ainda não chegou. Estava exausta, o que me fez dormir rápido. Quando eu
acordei, achei que não veria meu marido, e me surpreendi ao ver que ele estava
dormindo ao meu lado. Eu vou para o banheiro tomar um banho e me arrumar para
sair, estou na cozinha tomando meu café
às pressas, por já estar atrasada, quando vejo o Alex descendo as escadas:
- Bom dia.
- Bom dia.
Ele se aproxima e da
um beijo na minha testa, não parece nem um pouco chateado, o que também me
surpreendeu:
- Você chegou que horas ontem?
- Não sei, mas já estava tarde, tive um problema com um
cliente, àquele de Vegas.
- Acho que vou comprar um carro.
Quando eu digo
isso, ele imediatamente começa a rir, e quase engasga com o café:
- Você está brincando?
- Não, estou falando sério.
- Você é uma péssima motorista, é um perigo.
- Não sou nada.
- Seu eu me lembro de bem, você já bateu o carro umas 7
vezes antes do seu pai te convencer a parar de dirigir.
- Pode falar o que você quiser, hoje mesmo vou a uma
concessionária.
Antes de sair para
a galeria, dou um beijo no meu marido, e mesmo depois de tudo, fico feliz por
ele não estar de fato chateado. Ainda no
elevador, meu telefone toca, e quando eu olho pra tela vejo o nome do Gabriel.
Ele me diz que já chegou, e me convida para jantar, mas eu sugiro um almoço e
ele acaba aceitando. Quando eu passo pela porta da galeria me surpreendo ao ver
o Jan e o Jeff, cara a cara:
- Bom dia Roberta.
- Jeff... O que você... A Manuela sabe que você está aqui?
- Não, estou esperando ela chegar.
- Eu já disse para ele sair, a Manuela não vai falar com
ele. Vocês não tem nada para conversar.
- Nossa Robe, eu não sabia que tínhamos um cão de guarda
aqui na galeria.
Quando nós viramos,
a Manu está parada olhando para o Jeff:
- Oi Manu.
Ela fica olhando
para ele, mas não diz absolutamente nada:
- Eu vim aqui te chamar pra conversar, acho que tenho muito
para te contar.
Ela continua sem
expressar nenhuma reação, e eu daria tudo para saber o que ela estava pensando
naquele momento:
- Podemos conversar na cafeteria aqui da frente?
- Ela não vai falar com você nem aqui e em nenhum outro
lugar!
- Jan Pierre, por favor, você não tem o poder de escolher
com quem eu vou ou não falar, minha vida não é da sua conta, então, por favor,
não se intrometa.
Eu percebi pelo tom
de voz que aquela ali não era a Manu, e sim a Liss, ela se vira para mim com o
rosto sério:
- Não vou demorar.
- Tudo bem.
Ela sai pela porta
com o Jeff, e desde o momento em que chegou, até o momento em que saiu, não deu
uma palavra se quer para ele. Ela realmente não demora, mas quando entra no
escritório, a dor está estampada nos seus olhos. Ela não me diz nada a respeito
da conversa que teve com o Jeff, e eu também não pergunto:
- Vou sair para comprar um carro hoje, estou cansada de
ficar pegando táxi.
- Mas você não é uma péssima motorista?
- Não! Porque tudo mundo fala isso? Não sou uma das melhores, mas também não ofereço
risco para ninguém.
- Posso imaginar, vamos almoçar junto?
- Eu vou almoçar com o Gabriel.
- Ahh, o seu ex-namorado traidor/ padrasto. O Alex sabe
disso?
- Não, mas acho que ele não se importa o Gabriel também é
funcionário da empresa, e o Alex não é do tipo ciumento nem nada, ele confia em
mim.
Eu passo uma
mensagem para o Alex, só para confirmar minha certeza de que ele confia em mim,
e eu estava certa, ele diz que tudo bem eu almoçar com o Gabriel. A manhã passa
bem rápido, e está tudo uma correria porque estamos recebendo minha coleção
particular. Não para vender nada, mas vou deixar as obras expostas. Não demora muito e o Gabriel
chega para me buscar. Acabamos comendo eu um restaurante italiano:
- O que você veio fazer aqui em Nova York?
- Vim visitar um cliente, ele está no Texas, só chega
amanhã.
- E como está a minha mãe e a Alice?
- Estão bem, eu queria te fazer uma pergunta.
- Tudo bem.
- Eu amo sua mãe, eu sei que você pode não
acreditar nisso, mas eu amo, e quero passar o resto da minha vida com ela.
Bem... Eu estou querendo dizer que... Robe, eu vou pedir a sua mãe em casamento.
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