segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Capitulo 33

              Ele ficou parado, e por mais que tentasse esconder eu sabia que a minha declaração foi um choque:
- Você quer adotar uma criança?
- Não, eu quero ter um filho, quero engravidar.
- Roberta, você sabe que eu não posso te proporcionar isso.
- Eu sei, mas...
- Eu sinto muito, mas não posso.
   Ele sai andando em direção ao quarto, e eu vou atrás:
- Alex, eu li na internet que tem um tratamento experimental em Chicago que está dando super certo, poderíamos tentar...
- Por favor, não vamos insistir no assunto.
- Eu acho que vale a pena marcar uma consulta para...
- Roberta! Por favor, e não vou para Chicago, não vou fazer parte de um tratamento espernearão outra vez, porque nós dois já sabemos o resultado, e eu não estou nem um pouco a fim de passar por um estresse desse outra vez!
- Eu acho que você está sendo um baita de um egoísta.
- Eu não estou sendo egoísta, você sabe muito bem que esse assunto é difícil para mim, da mesma forma que é para você.
- Você está sim sendo egoísta! Pensado apenas em você e nos seus sentimentos!
- Se você faz tanta questão de me chamar de egoísta, você deveria no mínimo olhar para a sua atitude, você quer que eu passe por tudo outra vez, só para você se sentir bem! E nós dois sabemos que nem eu e nem você vamos estar realmente bem no fim dessa história!
- Alex, você é meu marido e quando se recusa a fazer o tratamento está se recusando a me dar o que eu mais quero a me dar a felicidade!
- Você está virando o jogo para o seu lado.
- EU SÓ ESTOU DIZENDO PARA O MEU MARIDO QUE EU QUERO UM FILHO! PORRA! EU TENHO 30ANOS E ESTOU NO MELHOR MOMENTO DA MINHA VIDA!
- Vamos adotar um!
- EU NÃO QUERO! EU QUERO VER A MINHA BARRIGA CRECER E SENTIR OS CHUTES DO BEBÊ, QUERO TER DESEJOS MALUCOS E PEGAR O MEU FILHO NO COLO DEPOIS DO PARTO!
- Eu sinto muito, mas isso não vai acontecer.
- POR QUE VOCÊ NÃO QUER!
- PORQUE EU SOU ESTÉREO!
  Ele anda de um lado para o outro do quarto, com as mãos no cabelo e sua postura é tensa, quando ele para de andar, repita fundo:
- Eu não posso te dar um filho porque eu sou estéreo, você sempre soube disso, é até testemunhou a forma como eu fiquei quando os outros tratamentos não deram certo, eu não quero passar por isso outra vez, você acha que eu também não quero um filho? Ter um bebê com a mulher que eu amo? Eu quero, e como quero só que não posso, e isso me atormenta a vida inteira, e vai me atormentar ainda mais, e sua falta de compreensão só piora as coisas.
  Eu também repito fundo, tentando me acalmar:
- Se o tratamento der certo, pense em toda a felicidade que vamos ter.
- E se não der certo?
- Não pense assim...
- Eu penso, porque eu já fui aos melhores médicos  da área e fiz dezenas de tratamentos e não deu certo, e isso acabou sendo um fator a mais para a minha viajem ao Canadá.
- Alex...
- Eu não vou passar mais por isso, entenda.
   Ele se deita e vira de costas para mim. Eu demoro em pegar no sono, e quando acordo, ele já foi para o trabalho. Eu chego à galeria antes de todos, e algum tempo depois a Manu chega, e depois o Jan:
- Bom dia.
- Bom dia.
- Como foi o jantar com a Marina?
- Bom.
- E como está a barriga dela?
- Começando a aparecer.
- Por que você está assim?
   Eu respiro fundo e conto tudo pra ela:
- Eu ainda não entendi o motivo de ele não querer um filho.
- Ele não pode ter filho, ele é estéreo, já fez dezenas de tratamentos mas nenhum deu certo.
- Então isso muda as coisas, não é que ele não queira, ele só não pode, e isso se torna uma coisa dolorosa para ele.
- Eu acho muito egoísmo da parte dele se recusar a fazer o tratamento.
- Mas não é, imagina só ele se encher de esperança, e no final receber um banho de água fria, pensa bem, deve ser doloroso pra ele também.
   Eu fico quieta e vou olhar meus e-mail,  coisa que não faço a muito tempo. Minha caixa de entrada está lotada, e o primeiro que eu abro é da Frida, ela fala que infelizmente não vai poder assinar o contrato, eu já sabia disso, mas mesmo assim ela da uma satisfação. O próximo que eu abro é do Gabriel, que diz que está vindo para Nova York e que gostaria de jantar comigo qualquer noite, e que quando chagar aqui me manda uma mensagem, eu abro o próximo, que é do Gustavo, meu representante na empresa, ele me manda um relatório do último semestre e as notícias são animadoras, as coisas estão indo muitíssimo bem.
 O dia demorou muito para passar, e quando finalmente chego a casa, o Alex  não está lá e eu vou até o lugar onde ele deixa as chaves do carro, e elas também não estão, então é sinal de que ele ainda não chegou. Estava exausta, o que me fez dormir rápido. Quando eu acordei, achei que não veria meu marido, e me surpreendi ao ver que ele estava dormindo ao meu lado. Eu vou para o banheiro tomar um banho e me arrumar para sair,  estou na cozinha tomando meu café às pressas, por já estar atrasada, quando vejo o Alex descendo as escadas:
- Bom dia.
- Bom dia.
  Ele se aproxima e da um beijo na minha testa, não parece nem um pouco chateado, o que também me surpreendeu:
- Você chegou que horas ontem?
- Não sei, mas já estava tarde, tive um problema com um cliente, àquele de Vegas.
- Acho que vou comprar um carro.
   Quando eu digo isso, ele imediatamente começa a rir, e quase engasga com o café:
- Você está brincando?
- Não, estou falando sério.
- Você é uma péssima motorista, é um perigo.
- Não sou nada.
- Seu eu me lembro de bem, você já bateu o carro umas 7 vezes antes do seu pai te convencer a parar de dirigir.
- Pode falar o que você quiser, hoje mesmo vou a uma concessionária.
   Antes de sair para a galeria, dou um beijo no meu marido, e mesmo depois de tudo, fico feliz por ele não estar de fato chateado.  Ainda no elevador, meu telefone toca, e quando eu olho pra tela vejo o nome do Gabriel. Ele me diz que já chegou, e me convida para jantar, mas eu sugiro um almoço e ele acaba aceitando. Quando eu passo pela porta da galeria me surpreendo ao ver o Jan e o Jeff, cara a cara:
- Bom dia Roberta.
- Jeff... O que você... A Manuela sabe que você está aqui?
- Não, estou esperando ela chegar.
- Eu já disse para ele sair, a Manuela não vai falar com ele. Vocês não tem nada para conversar.
- Nossa Robe, eu não sabia que tínhamos um cão de guarda aqui na galeria.
   Quando nós viramos, a Manu está parada olhando para o Jeff:
- Oi Manu.
   Ela fica olhando para ele, mas não diz absolutamente nada:
- Eu vim aqui te chamar pra conversar, acho que tenho muito para te contar.
   Ela continua sem expressar nenhuma reação, e eu daria tudo para saber o que ela estava pensando naquele momento:
- Podemos conversar na cafeteria aqui da frente?
- Ela não vai falar com você nem aqui e em nenhum outro lugar!
- Jan Pierre, por favor, você não tem o poder de escolher com quem eu vou ou não falar, minha vida não é da sua conta, então, por favor, não se intrometa.
   Eu percebi pelo tom de voz que aquela ali não era a Manu, e sim a Liss, ela se vira para mim com o rosto sério:
- Não vou demorar.
- Tudo bem.
   Ela sai pela porta com o Jeff, e desde o momento em que chegou, até o momento em que saiu, não deu uma palavra se quer para ele. Ela realmente não demora, mas quando entra no escritório, a dor está estampada nos seus olhos. Ela não me diz nada a respeito da conversa que teve com o Jeff, e eu também não pergunto:
- Vou sair para comprar um carro hoje, estou cansada de ficar pegando táxi.
- Mas você não é uma péssima motorista?
- Não! Porque tudo mundo fala isso? Não sou  uma das melhores, mas também não ofereço risco para ninguém.
- Posso imaginar, vamos almoçar junto?
- Eu vou almoçar com o Gabriel.
- Ahh, o seu ex-namorado traidor/ padrasto. O Alex sabe disso?
- Não, mas acho que ele não se importa o Gabriel também é funcionário da empresa, e o Alex não é do tipo ciumento nem nada, ele confia em mim.
   Eu passo uma mensagem para o Alex, só para confirmar minha certeza de que ele confia em mim, e eu estava certa, ele diz que tudo bem eu almoçar com o Gabriel. A manhã passa bem rápido, e está tudo uma correria porque estamos recebendo minha coleção particular. Não para vender nada, mas vou deixar as obras expostas.                Não demora muito e o Gabriel chega para me buscar. Acabamos comendo eu um restaurante italiano:
- O que você veio fazer aqui em Nova York?
- Vim visitar um cliente, ele está no Texas, só chega amanhã.
- E como está a minha mãe e a Alice?
- Estão bem, eu queria te fazer uma pergunta.
- Tudo bem.
- Eu amo sua mãe, eu sei que você pode não acreditar nisso, mas eu amo, e quero passar o resto da minha vida com ela. Bem... Eu estou querendo dizer que... Robe, eu vou pedir a sua mãe em casamento.

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