sábado, 22 de agosto de 2015

Capítulo 35

   Eu sinto um frio na barriga, e ele continua olhando para mim com o sorriso no rosto:
- O que você vai fazer lá?
   Ele ergue uma sobrancelha:
- Tenho uma consulta médica.
  Eu arregalo os olhos e meu coração quase sai pela boca:
- Minha esposa quer ter um filho, então eu vou dar um filho à ela.
   Eu fico boquiaberta enquanto ele começa a retirar os pratos da mesa:
- Seria bom uma ajudinha aqui.
   Eu levanto da mesa e vou até ele, passo os braços por seu pescoço e levo meus lábios aos dele:
- Se eu soubesse que ia ser assim tinha contado mais cedo.
- Você é maravilhoso. Eu te amo.
- Eu também te amo.
 - Isso significa muito para mim, de verdade.
 Eu vou para o quarto dormir, enquanto o Alex trabalha em uns projetos no computador. Eu estou tão feliz que não paro de pensar no sacrifício que ele está fazendo por mim, e do quanto eu amo aquele homem.
  Quando eu vou para a galeria ele ainda está dormindo, e eu não quero acordá-lo, deve ter ido pra cama bem tarde. Eu chego à galeria e vou direto contar tudo pra Manu, ela fica mais feliz do que eu tinha imaginado:
- Que noticia maravilhosa!
- Ele me pegou totalmente de surpresa, eu achei que ele fosse se fechar e não tocar mais no assunto.
- Já que ele não vai poder ir pra exposição, você pode ir comigo.
- Não, eu vou dirigindo.
  Ela não concorda, mas não discute. Ficamos até mais tarde na galeria, um cliente veio ver as novas obras, e demorou muito para se decidir se iria reservar alguma.
  Quando eu chego a casa, o Alex ainda não está, e alguns minutos depois ele me manda uma mensagem dizendo que vai ter que ficar até mais tarde no escritório.
  Eu acabo pedindo comida italiana, e vou para a cama. Quando eu acordo o Alex está com uma xícara de café e um jornal, sentado a mesa de jantar:
- Bom dia.
- Bom dia, que horas você chegou?
- Não sei, mas já era bem tarde.
- Eu adoraria passar o dia com o meu marido, mas infelizmente eu tenho que sair com a Manu para comprar um vestido para amanhã.
  Eu passo no apartamento dela, que ainda não acordou:
- Levanta, levanta. Temos que comprar vestidos de gala para amanhã.
  Ela protesta, mas levanta:
- Pode ir seguindo para a galeria, eu te encontro lá.
  Depois de uma hora ela chega ao nosso escritório:
- Caramba, que demora.
- Desculpa, desculpa.
  Eu acabo comprando um vestido preto, com um corte na lateral que vai do joelho até o chão, ele é tomara que caia, e tem um bordado na parte de cima. A Manu acabou pegando uma cinza com a parte de cima toda prata, era de uma alça só, e ela ficou incrivelmente linda com aquele vestido, saímos da loja de vestidos e fomos à busca de sapatos. Eu demorei horas para escolher, e acabei pegando uma sandália de salto, toda dourada. A Manu, sempre bem decidida, foi logo pegando um sapato todo preto e lustroso. Resolvemos parar para tomar um café:
- Você não vai conseguir dirigir com essa sandália que você comprou.
- Eu vou com uma sapatilha, vou colocar a sandália só quando já estiver na lá.
  Depois de agendar um horário no salão, voltamos para a galeria. Essa semana foi bem corrida, e cheia de surpresas. E eu estava até estranhando, estava tudo perfeito de mais, dava até medo.
  Quando eu cheguei a casa, o Alex me fez experimentar o vestido e desfilar para ele:
- Então você gostou?
- Esta brincando? Eu adorei.
- Que horas você vai para Chicago?
- Daqui umas 4 horas, minha consulta é as 15h00min.
- Quantos dias você vai ficar lá?
- Não sei bem, mas acho que não passa de três.
   Quando eu acordo o Alex não está, e eu tenho a impressão de que o dia vai passar super-rápido. Eu e a Manu ficas na galeria só até às 15h30min, e vamos direto para o salão. Eu estava fazendo as unhas quando o Alex me ligou:
- Oi, como foi a viajem?
- Foi boa, eu já fiz um bocado de exames, agora estamos esperando os resultados.
- Que bom.
- Acho que vou voltar antes do que eu imaginava, mas mesmo assim não vai dar para te acompanhar hoje.
  Ele diz que está sendo chamado por um médico, e desliga o celular:
- Você tem certeza de que não quer ir comigo?
- Tenho sim, não se preocupa não Manu.
   Quando eu chego a casa, termino de me arrumar. Chego à garagem e o carro da Manu ainda está lá, então eu mando uma mensagem dizendo que já estou indo, ela me responde imediatamente, dizendo que está terminando de se arrumar e ainda vai esperar o motorista que ela contratou.

    Quando eu deixo a garagem do prédio, me dou conta de que esqueci a sapatilha, e vou ter que dirigir descalça. Está tudo correndo bem, e eu estava quase terminando de passar no trecho da estrada que estava em reforma, quando eu pego o celular para ver as horas, e em questão de segundos o meu pé fica suado, desliza e o carro invade a pista em reforma, e tudo parece estar em câmera lenta. Eu me lembro do carro capotar e de sentir estilhaços de vidro, eu sentia uma dor incontrolável na nuca. Estava desnorteada quando a Manu apareceu, toda desesperada e falindo ao telefone em completo pânico. Não demora muito e eu vejo as luzes da ambulância, um paramédico se aproxima de mim e diz para ficar acordada e falar com ele, mas eu não consigo minha voz não sai, e a dor parece invadir o meu corpo. Tudo ao meu redor parece estar parando e minha visão começa a borrar, mas antes eu vejo o meu pai, bem do lado do rapaz que tenta me manter acordada. O meu pai olha para mim e abre um largo sorriso, que só ele tem, então, eu fecho os olhos.