Eu sinto um frio na
barriga, e ele continua olhando para mim com o sorriso no rosto:
- O que você vai fazer lá?
Ele ergue uma
sobrancelha:
- Tenho uma consulta médica.
Eu arregalo os olhos
e meu coração quase sai pela boca:
- Minha esposa quer ter um filho, então eu vou dar um filho
à ela.
Eu fico boquiaberta
enquanto ele começa a retirar os pratos da mesa:
- Seria bom uma ajudinha aqui.
Eu levanto da mesa
e vou até ele, passo os braços por seu pescoço e levo meus lábios aos dele:
- Se eu soubesse que ia ser assim tinha contado mais cedo.
- Você é maravilhoso. Eu te amo.
- Eu também te amo.
- Isso significa
muito para mim, de verdade.
Eu vou para o quarto
dormir, enquanto o Alex trabalha em uns projetos no computador. Eu estou tão
feliz que não paro de pensar no sacrifício que ele está fazendo por mim, e do
quanto eu amo aquele homem.
Quando eu vou para a
galeria ele ainda está dormindo, e eu não quero acordá-lo, deve ter ido pra
cama bem tarde. Eu chego à galeria e vou direto contar tudo pra Manu, ela fica
mais feliz do que eu tinha imaginado:
- Que noticia maravilhosa!
- Ele me pegou totalmente de surpresa, eu achei que ele
fosse se fechar e não tocar mais no assunto.
- Já que ele não vai poder ir pra exposição, você pode ir
comigo.
- Não, eu vou dirigindo.
Ela não concorda,
mas não discute. Ficamos até mais tarde na galeria, um cliente veio ver as
novas obras, e demorou muito para se decidir se iria reservar alguma.
Quando eu chego a
casa, o Alex ainda não está, e alguns minutos depois ele me manda uma mensagem
dizendo que vai ter que ficar até mais tarde no escritório.
Eu acabo pedindo
comida italiana, e vou para a cama. Quando eu acordo o Alex está com uma xícara
de café e um jornal, sentado a mesa de jantar:
- Bom dia.
- Bom dia, que horas você chegou?
- Não sei, mas já era bem tarde.
- Eu adoraria passar o dia com o meu marido, mas
infelizmente eu tenho que sair com a Manu para comprar um vestido para amanhã.
Eu passo no
apartamento dela, que ainda não acordou:
- Levanta, levanta. Temos que comprar vestidos de gala para
amanhã.
Ela protesta, mas
levanta:
- Pode ir seguindo para a galeria, eu te encontro lá.
Depois de uma hora
ela chega ao nosso escritório:
- Caramba, que demora.
- Desculpa, desculpa.
Eu acabo comprando
um vestido preto, com um corte na lateral que vai do joelho até o chão, ele é
tomara que caia, e tem um bordado na parte de cima. A Manu acabou pegando uma
cinza com a parte de cima toda prata, era de uma alça só, e ela ficou
incrivelmente linda com aquele vestido, saímos da loja de vestidos e fomos à
busca de sapatos. Eu demorei horas para escolher, e acabei pegando uma sandália
de salto, toda dourada. A Manu, sempre bem decidida, foi logo pegando um sapato
todo preto e lustroso. Resolvemos parar para tomar um café:
- Você não vai conseguir dirigir com essa sandália que você
comprou.
- Eu vou com uma sapatilha, vou colocar a sandália só quando
já estiver na lá.
Depois de agendar um
horário no salão, voltamos para a galeria. Essa semana foi bem corrida, e cheia
de surpresas. E eu estava até estranhando, estava tudo perfeito de mais, dava
até medo.
Quando eu cheguei a
casa, o Alex me fez experimentar o vestido e desfilar para ele:
- Então você gostou?
- Esta brincando? Eu adorei.
- Que horas você vai para Chicago?
- Daqui umas 4 horas, minha consulta é as 15h00min.
- Quantos dias você vai ficar lá?
- Não sei bem, mas acho que não passa de três.
Quando eu acordo o
Alex não está, e eu tenho a impressão de que o dia vai passar super-rápido. Eu
e a Manu ficas na galeria só até às 15h30min, e vamos direto para o salão. Eu
estava fazendo as unhas quando o Alex me ligou:
- Oi, como foi a viajem?
- Foi boa, eu já fiz um bocado de exames, agora estamos
esperando os resultados.
- Que bom.
- Acho que vou voltar antes do que eu imaginava, mas mesmo
assim não vai dar para te acompanhar hoje.
Ele diz que está
sendo chamado por um médico, e desliga o celular:
- Você tem certeza de que não quer ir comigo?
- Tenho sim, não se preocupa não Manu.
Quando eu chego a
casa, termino de me arrumar. Chego à garagem e o carro da Manu ainda está lá,
então eu mando uma mensagem dizendo que já estou indo, ela me responde
imediatamente, dizendo que está terminando de se arrumar e ainda vai esperar o
motorista que ela contratou.
Quando eu deixo a
garagem do prédio, me dou conta de que esqueci a sapatilha, e vou ter que
dirigir descalça. Está tudo correndo bem, e eu estava quase terminando de
passar no trecho da estrada que estava em reforma, quando eu pego o celular
para ver as horas, e em questão de segundos o meu pé fica suado, desliza e o
carro invade a pista em reforma, e tudo parece estar em câmera lenta. Eu me
lembro do carro capotar e de sentir estilhaços de vidro, eu sentia uma dor
incontrolável na nuca. Estava desnorteada quando a Manu apareceu, toda
desesperada e falindo ao telefone em completo pânico. Não demora muito e eu
vejo as luzes da ambulância, um paramédico se aproxima de mim e diz para ficar
acordada e falar com ele, mas eu não consigo minha voz não sai, e a dor parece
invadir o meu corpo. Tudo ao meu redor parece estar parando e minha visão
começa a borrar, mas antes eu vejo o meu pai, bem do lado do rapaz que tenta me
manter acordada. O meu pai olha para mim e abre um largo sorriso, que só ele
tem, então, eu fecho os olhos.