domingo, 22 de março de 2015

Capitulo 23

                       

- Calma amor, por que você tem que ir pro Brasil? O que aconteceu? 
- Minha mãe acabou de me ligar, meu pai, parece que ele está internado em estado grave. 
- Então eu vou com você, só vou pegar algumas coisas no meu apartamento. 
- Eu também vou. 
- Você o quê? 
- Jeff, eu vou com a minha amiga. 
- Manuela você esta de casamento marcado, não pode sair agora! 
- Olha, você que não me irrite, que para mim acabar com essa droga de casamento não me custa nada. 
- Não, Manu, ele está certo, é melhor você ficar, eu te dou notícia. 
Enquanto o Alex pegava as coisas dele, eu fui jogando algumas roupas aleatórias em uma pequena mala de mão, estava tremendo muito. Quando voltei para a sala, a Manu já tinha ligado para uma amiga dela que trabalhava em uma companhia aérea aqui em Nova York: 
-  Tem duas passagens com destino a São Paulo, está uma no seu nome e outra do da Robe, é só apresentar os documento e pegar. 
- Tudo bem. 
O Alex pegou a minha mala, e quando nós estávamos saindo, a Manu me deu uns comprimidos: 
- São calmantes, os que eles dão no hospital de calmante não tem nada, leva o frasco todo. 
- Eu mando notícia. 
- Amiga, aguenta firme, ele vai sair dessa. 
  Eu tomei um dos calmantes no avião, e dormi, quando o Alex me acordou, o avião já estava quase pousando.
 Quando desembarcamos, o Fernando, motorista da minha mãe estava nos esperando, eu estava muito aflita: 
- Fernando, você pode me deixar no hospital, e depois leva as malas e o Alex para a minha casa por favor. 
- Claro senhorita. 
- Nada disso, eu não vou deixar você sozinha nem a pau. 
 Eu passei pela recepção para pegar o papel de visitante, e quando eu fui para a sala de espera, eu vi minha mãe, ela estava pálida e com cara de quem não dormia há séculos, minha irmã estava cochilando em uma das poltronas, e eu vi também o Gabriel estava na  poltrona ao lado da dela, ele estava com a cabeça baixa, eu ignorei os dois e fui logo até minha mãe, eu dei um abraço apertado nela: 
- Como você está? 
- Bem, na medida do possível. 
- Em que quarto ele está?
- No 1418, no final do corredor a esquerda. 
- Eu vou lá. 
  Eu olhei para o Alex e ele imediatamente entendeu que eu queria que ele me acompanhasse e então ele pegou na minha mão, enquanto eu passava pelo corredor, coloquei na minha cabeça que não iria chorar. 
Cheguei na porta do quarto, e ela estava fechada, antes de entrar eu respirei fundo e depois de alguns instantes finalmente entrei, meu pai estava cercado de aparelhos, ele também estava careca e bem mais magro do que eu me lembrava, estava cochilando, e eu tive alguns minutos para analisa-lo, ele estava extremamente pálido. Eu não consegui conter algumas lagrimas que escaparam bem na hora em que meu pai acordou: 
- Minha filha linda. 
Eu enxuguei as lagrimas, peguei na mão dele e sorri: 
- Pai.... 
Eu estava fazendo um esforço tão forte para não chorar, mas eu não estava me saindo tão bem: 
- Que bom que você está aqui filha, eu queria te ver, queria minhas três mulheres juntas mais uma vez. 
Ele falava  a com bastante esforço, e estava bem debilitado: 
- O senhor vai ter suas três mulheres juntas por muito tempo, eu vou voltar para São Paulo e nós vamos voltar a viver juntos. 
- Berta, não, você não vai fazer isso, eu não quero que você abandone os seus planos em Nova York, e eu quero que você me prometa que não vai fazer isso, que não vai voltar para o Brasil, que não vai ficar muito tempo de luto, que não vai parar a sua vida, me prometa. 
- Pai, para, para de falar como se o senhor não fosse mais estar aqui, porque vai estar, o senhor vai melhorar e vai sair dessa. 
- Roberta, você tem que estar preparada, tem que encarar a realidade. 
- O senhor tem que ter fé. 
- Eu assinei a ONR. 
- O senhor fez o quê? 
  E foi nesse momento que todo o choro que eu estava segurando veio a tona: 
- O senhor não pode tomar essa decisão sozinho assim, não é justo. 
- Roberta eu já tomei a minha decisão. 
- Eu vou atrás dos seus médicos, ou da administração do hospital, não sei, vou dizer que o senhor se arrependeu e quer anular a ONR, eu....eu... isso não é justo, não....não é justo. 
  Eu mal conseguia falar, estava chorando tanto que as palavras não saíam: 
- Filha, vai ser melhor assim, eu não quero ser reanimado e acabar me tornando um vegetal esquecido em uma cama, por favor Berta, tente entender. 
  Eu peguei na mão dele, eu compreendia, mas não queria aceitar: 
- Filha, eu fiz algumas alterações no testamento, eu coloquei você como minha maior beneficiada, quero que você fique com a maior porcentagem da empresa. 
- Pai, não vamos falar disso, o senhor vai sair dessa. 
- Filha, eu quero que você me prometa que não vai ficar muito tempo de luto, que não vai parar com os projetos e planos, que vai seguir em frente aconteça o que acontecer, eu não iria gostar de ver você passando um longo período de tempo se martirizando, eu só quero ouvir você prometer. 
  Eu beijei a mão pálida e magra dele, e ainda chorando respondi do fundo do meu coração: 
- Eu prometo. 
  Eu tive que sair do quarto porque ele tinha que fazer alguns exames, e aproveitei para  ir a capela do hospital rezar um pouco, o lugar estava um pouco cheio. Eu não era boa naquilo: 
" Meu Deus, eu sei que não falo com o senhor com tanta frequência, mas desta vez eu tenho um grande motivo, não sei bem como fazer isso ja que eu não sou muito religiosa nem nada, mas queria te pedir pela vida do meu pai, eu não saberia viver sem ele, porque afinal, ele é a pessoa que eu mais amo nesse mundo, ele sempre foi meu super herói e vê-lo daquela maneira, deitado naquela cama foi a pior coisa do mundo, meu pai é um homem bom, e por favor Deus, eu te  imploro, salva o meu pai, Amém" 
  Eu voltei para a sala de espera, e quando eu cheguei eu vi o Gabriel abraçando minha mãe e o Alex estava na cadeira ao lado confortando a minha irmã, as duas choravam muito, e então eu entendi a situação, e tudo começou a acontecer em câmera lenta, eu passei por eles correndo e fui direto para o quarto onde meu pai estava, quando eu cheguei na porta, pude ver os médicos no quarto, e aquele barulho agudo do aparelho era a única coisa que eu ouvia, me lembro de estar sentindo tanta dor, que até hoje não tenho palavras para descrever, quando eu vi meu pai deitado naquela cama, pálido, sem nenhuma vida, eu desabei, e cai de joelhos em frente a porta do quarto, me lembro do Alex vindo em minha direção e me segurando, eu chorava enlouquecidamente, e juntamente com o choro, vinha uma dor enorme. Aquele foi sem sobra de duvida o pior momento da minha vida e o único em que eu desejei morrer. 

ONR= Ordem de não ressuscitar.